Léo
Quando eu tinha 14 anos eu tinha um 'namorinho'. Um rolo, no estilo namoro de internet, sabe? Desses que todo mundo dessa nova era digital tem, uma vez na vida.O meu morava em Florianópolis, e eu, em São Paulo. 'Meses de e-mails, conversas pelo telefone, noites adentro. Eu aqui, e o amor ali'. Bem desse jeito bonito e lúdico.
Cerca de quinze dias antes de vir pra São Paulo, com passagem comprada, com data marcada, ele ficou doente. Melhorou, piorou de novo. Passou por uma cirurgia do coração e acabou não saindo nunca de lá. Pra mim, só uma carta de três páginas escrita enquanto ainda estava no hospital, que ele deixou pronta caso acontecesse alguma coisa.
Hoje, quase seis anos depois eu estou aqui. Sentada na frente de um laptop com uma janela enorme que dá para Baía Sul de Florianópolis. Do lado da rodoviária tão sonhada, esperando dar a hora do ônibus que nunca estacionou pra voltar pra terra, que hoje é o único lugar ao qual eu pertenço.
Não vou dizer que foi automático. Pois não foi. Demorou três dias, e várias voltas pela cidade até que ele me encontrasse de novo, escondida, num canto da memória que eu deixei pra trás porque doía demais. O coração, apertado, era bombardeado de tudo aquilo, feito não tivessem passado nem seis meses.
Não vou dizer que chorei, muito embora o olhar ardia as lágrimas que eu já não tinha mais como chorar. Lembro que, depois dele, eu passei quase um ano sem chorar. Vazia, seca. A saudade eu mal sei de onde vem sendo muito sincera. Não sei se vem do que a gente não teve, ou da falta de defeito que história nunca chegou a ter, ou do romantismo que mora em ter um anjo da guarda pra lá de especial. Mas tem um som, tem uma música, tem um toque que dá dentro do peito, que acende um canto da boca que sorri porque só eu e ela sabemos como é ter algo sem defeito nenhum. Voltando de lá eu descobri de novo que existia uma luz que me ligava aquela parte da minha vida. Aquela parte cheia de fé.
Essa certeza em algo maior, ainda mora em mim. E isso é quase tudo que eu sei. Dele e da história mal acabada, eu já sei decor. Fé, menina. Que a minha história é com essa tal de fé, que de algum jeito sempre terá tido alguém que teve por mim.

Entendi porque é tão bonito e tão difícil de deixar. Tem gente que demora uma vida inteira pra se permitir um carinho assim. Tem esperança, viu? Ah, tem.
CANTANDO.
Eu nunca achei que fosse ser assim. Do tipo que se segura pra viver, sabe?
A gente canta. A gente canta porque a gente não está indo pra lugar nenhum, a gente canta porque não existe razão pra ficar, muito menos razão pra ir embora. Cantamos assim, pra deixar claro a falta de razão pra ser pra sempre do jeito que a gente é. Ou mudar de vez pra outra coisa.
'Sem transbordamentos emocionais. Sem caos. Sem exageros. A possibilidade de MUDAR A NÓS MESMOS, e só'
E eu vou cantando. Fica você, seu bosta. Fica. Que eu vou cantando.