Aquele caminho. Aquela prisão.
As curvas foram melódicas e de tão calma que sua respiração parecia, até dormir ela conseguiu. Acordou com os olhos brilhando e a cara de sono não se notava quando a feição era de quem avista o mar pela primeira vez. Pronto. O sonho se fez real e o chamado tinha sido ouvido, e chance foi aproveitada... Não tinha sido difícil até ali.
O ônibus levou ela até a esquina da casa dos sonhos. Do jeito exato que ela era, com todo o pacote "casa-rua-árvore-portão" logo ali, numa parte mais alta daquela cidade que parecia ter saído de um filme; aquela filme, aquele mesmo que sempre foi o filme dela.
Antes de apertar a campainha notou que no sonho ela estava mais bonita, mais brilhante até mesmo mais alimentada. Mas, quem se importa? Chamaram, oras. Estava ela ali.
A campainha soou e doeu um pouco, era uma expectativa dela parada naquela parte da estrada onde existem dois caminhos. Aumentar ou sumir.
Silêncio.
Ninguém atendeu exceto o cachorro que até latiu e ela sabia que na linguagem dele, ele até tinha sido simpático. Com a misto de novo ódio e o resto do entusiasmo ela chamou um táxi, porque achou que merecia realmente gastar o dinheiro com isso. Dentre mil motivos que rodavam na sua cabeça, sua adrenalina não abaixava e isso irritava mais ainda; ela sempre odiou -se por não saber respirar quando pensava naquilo. Mas tudo levava aquilo. Mas como pode alguém esquecer como se respira?
Não foi pela incrível sensibilidade que ela adquiriu em questão de minutos; era tanta certeza de que aquela porta se abriria, certeza escondida atrás de uma montanha de mentiras que invetara pra si, com entuito de calar todas as especulações que sua consciência lhe entregava quando particularmente era egoísta.
Seca das lágrimas que achava que não tinha para chorar, jogou para trás aquele cd das melhores músicas para embalar um salto como aquele e a lista de todos os motivos pelos quais ela tinha ido. Sim, ela tinha decorado isso e a lista dos passos e planos para o salto, que estava no verso da folha dos motivos. Apertou os lábios porque se apertasse os olhos, eles pingariam. Apertou a mão porque se apertasse o peito, ele emplodiria. Com lágrimas doídas que caiam e atravessavam o rosto encostado na janela do ônibus; com destino ao conserto. Conserto não era exatamente o caminho de casa; mas ela teria, de uma forma ou outra, que parar pra consertar.O choro era de consolo, dela para ela mesma.
"Não te preocupa. Chore agora. Só, apenas, reconstitua seu sorriso ao descer, querida" ela pensava.