lembrança desbotada.
.Nada. Nada de verdade, pensava ela. Nada que salvasse aquela baile. As mesmas toalhas vermelhas nas mesas, só mais desbotadas do que á anos atrás. As mesmas músicas, o mesmo samba de gafieira mal cantado por uma bandinha nova, que mal sabia oque era samba. As mesmas antigas pérolas escondidas na caixinha de bijuterias e a mesma dor ao vesti-las. Prometeu a si mesma nunca mais voltar aquele lugar, com aquelas pessoas.
53 anos de vida, dois amores. Um mais amado que o outro. Quando o primeiro partiu, à 13 anos, ela esteve naquele baile, onde encontrou a esperança de novo. Mas não desta vez, desta vez não seria igual. Seu segundo amor também fora embora e ela não entedia como a vida podia ser mais amarga que cerveja, nos seus lábios. Suas amigas, espalhafatósas, à obrigaram a colorir o cabelo de vermelho, como nos velhos tempos. O unico problema é que ninguém notou que não eram os velhos tempos.
Cicatrizes feias por dentro e por fora a impediam de aceitar qualquer velho (bem penteado e bem perfumado, que a justiça seja feita, eles eram) que a chamasse para dançar. Exceto o garçom, novo, era simpático. Ele com uma aliança enorme de noivado na mão, e ela pensa: "o pobrezinho ainda acredita em felicidade".
Petiscos frios, pés cansados de ficarem parados. Corpo cansado de ficar daquele jeito, parado. Queria ir embora, queria acender um cigarro sem que ninguém lhe dissesse que aquilo já matara seu marido, e a mataria também. Queria ir para a casa tomar um banho e tirar aquele cheiro de Laka do cabelo, spray maldito de fixação do penteado que ela nem gostava, nem ele gostaria se estivesse alí.
Presa, ao cabelo, às amigas, ào passado, os olhos dela choravam o velho Cartola, e a falta daquele amor que não precisava de bailes para leva-la para dançar.