Meu avô já teve câncer. Curado, há dois anos, ele é assim, mais vivo que eu. A casa dele e daquela que divide o posto de mãe com a minha própria mãe, parece uma fazenda, uma casa que que parou no tempo, um canto com cheiro de mato, bem no meio da cidade.
Ele, ativo, não concorda em andar de ônibus para ir na maioria dos lugares, mesmo não pagando, ele vai a pé. Vinho, praticamente cinco litros sozinho no natal e eu nunca o vi bêbado. Católico praticante, bem humarado, fala bom dia pra cada humano que vê ao lado.
Sua cachorra, Preta, mas parece um lobo. Chegou a pouco tempo mas faz meu meu vô ralar queijo comprado na feira, em cima do arroz quentinho, na hora de comer. Cachorra mesmo, juro.
Hoje eu estava lá. Fui pegar uns documentos para xerocar, ele pingava colírio nos olhos da cadela, que obedecia, singelamente, devolvendo a atenção com lambidas e mais lambidas em sua mão. "Corre, menina" ele disse pra ela quando terminou, ela obedeceu e correu em direção a uma ninhada de passarinhos que estava no chão, em frente à sua horta. "Passarinho não, preta. Só pomba e olha lá." Ela obedeceu.
Quando ele viaja, ela fica no portão, não improta quantos dias, ela fica lá, no portão esperando ele. Amor assim, singelo.
Ele? Nervozo, precisa de uma vacina cara. E eu? Correndo atraz de documentos pra aumentar o tempo de vida daquele que é mais humano do que eu jamais poderia ser. Só assim, por ser humano.