O ônibus que parece mais do que costumava ser. Um japonês sentado na janela, cabelos lisos que lhe caíam sobre o rosto que se ligava a um pescoço que já tinha desistido de ficar reto. Dormia. Não era confortável, a cabeça balançava. Tomei á mão O Rei da Vela, abri e comecei com os pensamentos odiosos aos capitalistas e a cabeça do pobre garoto continuava lá, pendurada. No livro ainda eu notava que era desconfortável. Tive vontade, de verdade, de dizer "Ei, encosta aqui no meu ombro. Eu entendo teu cansaço e sei que não te conheço, nem faria questão em outra situação, mas você parece desconfortável".
E ele desceu e eu fui pra janela. Fones no ouvido porque afinal, o silêncio é um fardo pesado demais pra ser carregado. Perdida no sono das linhas que já ficavam confusas; fechei o livro e adeus, Oswald. Encostei a cabeça na janela e encontrei o sono que o garoto tinha abandonado lá. De repente ela veio, baixa até, deu "oi" pros meus tímpanos e atingiu minha memória acelerando o olhar que piscou assustado, lagrimas chegando. Passado ao ouvido.
Notei que sinto mais saudade dele do que eu achava que sentia. Chorei pelo passado que passou á três anos e que a três anos achei que tinha esquecido. Surpresa, eu não abandonei aquilo lá atrás. A gente guarda dentro da gente mas coisas do que imagina. Duas lágrimas conseguiram cair, as outras ficaram. Sorriso, não lamentoso, mas sentido, esboçou-se no rosto. A gente não se perde nem quando acha que se perdeu. Mas se você não consegue se encontrar numa lembrança, você não consegue se encontrar.
Tá tudo aí, menina, é só se organizar.