música pra casaÉ incrível como a comida tem mais gosto quando todo mundo, ou pelo menos a mãe, senta a mesa. Mas de segunda feira não é curtume corriqueiro ter mais alguém pra jantar.
Segunda o irmão não foi na faculdade, crise existencial. O irmão é aquele de quase nenhum amigo, de mundo pequeno, egoísta em seu jeito restringindo ao que lhe interessa e só. Mas naquela segunda ele não foi.
Ela finge quenão vê que ele está em casa. Prova o arroz fresco que tem gosto de arroz de quando se come sozinha, vira as costas e levou para a sala um guardanapo. Estendeu na pequena mesa da sala, e colocou sobre ela uma tigela com umas poucas folhas de alface americano temperados só com limão. Ao levantar ouve a campainha, avisa o irmão (já que a visita só poderias ser para ele, pois as segundas-ferias são pontualmente calculadas), e volta pra cozinha. Faz um prato e caminha de volta pra sala. Vê dois vultos subindo. O irmão tem companhia.
Isso só acontece por dois motivos. Nem por dois, apenas um. O irmão só tem companhia quando algo na vida dá errado, quando algo sai dos planos, quando ele se perde na vida que planeja e insiste em falhar, com intervalos de seis meses entre as falhas.
Janta vendo tv, joga fora duas horas de seu resto de noite na internet e sobe para dormir. O telefone toca: -Amor, os caras passaram aqui em casa e eu to conversando com eles, quando eles forem embora te dou um toque. Boa noite.
Namorado quando encontra seu lugar no mundo lhe fornece grande prazer, meninos procuram pouco meninos. Menos carentes eu acho, mais não menos sozinhos. Desliga o telefone e deita recebendo nos ouvidos um som que vem do quarto ao lado.
A guitarra desengonçada do irmão (que ela sabe que quando toca é porque está perdido) numa voz desafinada do primo que mora na rua de trás.
Os meninos da vida dela deveriam se juntar mais vezes. Dormiu bem aquela noite. Muito bem.
¶ 10:06 PM
Comentários:
Perdido ou não, a terapia da guitarra é adepta de muitos, inclusive a minha...