blue waters in her eyes
Ofereço meu lugar no trem. Olho para a janela, sento o sono vindo de mansinho, quase carinhoso. Naquele trem, no meio de tanta gente, uma senhora me olha fixamente. Parece que vê minha alma, estranha essa sensação. Se ela visse saberia que eu estava com medo.
Do trem, da plataforma, das pessoas, dos meus passos, das minhas coisas, da minha vida. Vida que me sorria lá na plataforma e que sorri e novo e de novo quando eu passo por aquelas estações que me levam ao Satyros. Não pelo grande ou pelo pequeno, mas por tudo que aquilo lá representa.
Pronta? Sei lá. Sei que de algum jeito eu não me sinto segura em lugar nenhum. Nem lá nem aqui. Nem com ele, nem sozinha. Sem segurança eu pisco os olhos e tento esquecer essa sensação de perda. Achei que poderia ser por ele, perder ele por algum motivo ridículo. Mas quem está indo embora sou eu mesma. Aquele pedaço de mim que não vai conseguir acompanhar a idéia de voltar sozinha pra casa, a idéia de não ficar co o namorado no sábado de noite, a idéia de não ter peso nenhum dentro daquele elenco, aqule pedaço de mim que nunca quis ver que talvez o caminho um dia fosse ficar perigoso. Eu acho que contava com a segurança.
cold.
Eu me resguardo de muita dor.
Simplesmente assim. Nunca liguei pra minha família falando que eu era magrela. Se eu ligasse ficaria triste, logo, não ligava. Não ligo para os meus tropeços no meio da faculdade, para os meus passos descompassados ainda pro ônibus, porque se eu ligasse eu sentiria.
Da vergonha mais banal até a faqueza mais

dolorida, às vezes eu apenas abstraio. Visto meus fones de ouvido e uso aquela outra de mim que eu carrego comigo para o caso de precisar.
Coloco ela no lugar dai eu não me importo com as notas ruins, com os fracassos dos planos futuros mal decididos, porque com ela eu não ligo pra nada. Ou quase nada.
é um jeito de me livrar de mim. E do peso que eu resolvo, por eu mesmo e mais ninguém, carregar nas costas.
Nem com a estréia do Sátyros eu to me importando, porque quando começar vai ser intenso demais para aquela garganta que finge não saber do risco gostoso que é entrar em cena de novo. Eu só finjo que não é comigo.