a chuva devia molhar mais.
Queria ter vontade de ser oque você merece, ela diz calada pra si mesma. Os livros, fracassados, acumulam-se na escrivaninha onde post it espalhados lembram do que ela já não queria se lembrar da primeira vez que se esqueceu.
A cachorra late barulhenta lá fora, mas ela não liga. Como não liga pro nariz que aponta o pó, pra urticária que aponta o desejo e a vergonha, para a lágrima que seca, que secou, que não cai mais, ela não mais aguarda, não espera, não se importa. Mais fácil se acostumar com o pó, com as pontas de lápis quebradas que inundam o mesa do computador que é só mais um objeto pra juntar pó junto com as pontas, que desistiram antes que o lápis riscasse a frase daquela música que insistia em bater na sua cabeça o dia to
do.

'o tempo decidiu não parar pra você', rabiscado com caneta bic numa folha onde só mais outras frases lembravam ela do que ela não queria ser lembrada, do que ela sabia, não esquecia mas sempre adiava.
Um dia, eu paro de te abandonar, calou para si. Só queria ser gota, gotejada na janela naquela chuva que
chovia fora do ônibus. As gotas que grudam lá, apostam corrida na direção do vento e são assim, só gotas que passam por cima da sujeira e tudo.