Eu que só faço chover.
Existe uma parte dela, uma daquela que ela insiste em preservar, que aparece quando chove, quando o dia é cinza, quando se fala em passado, quando é preciso ser sozinha.

Essa ela, essa eu (sempre na terceira pessoa, eu sei), precisa respirar ares novos. Essa tem uma influência de uma coisa meio vermelha meio roxa, meio intensa que quer sair pra dançar, que quer andar sem NUNCA parar e sem chegar a lugar nenhum. Essa que quer, do mundo todo, a casa pra morar.
Ela também quer permanecer, mas ainda é menos do que a vontade que bate no fundo do peito de ser completa da melhor maneira possível. E eu, que incessantemente procuro me ser mais completa, dou de cara com essa parte de mim que recarrega as baterias, aquece as canelas e está sempre pronta pra mais uma caminhada. Ela sabe daquela verdade Lispectoriana de ser: 'o que há de se fazer com a verdade que todo mundo é um pouco triste e todo mundo é um pouco só'.
Eu respiro, sinto que é ela chegando de novo. Talvez fosse ela o gato machucado que voltou pra casa nos meus sonhos dessa semana, talvez seja você, talvez seja ele. Talvez não seja ninguém.
Mas ela está aqui. Porque a gente é pequena. Mas mora na grandiosidade de tentar ser sempre maior.
A chuva nunca pára de cantar
A chuva nunca pára de descer.
[parafraseada Preta - Cordel do Fogo Encantado]